Vagando
- Marcelo Araujo Simões
- 26 de jan.
- 2 min de leitura
Um dia após o outro, existimos vagando nos arredores do mundo.
Trapaceamos a vida dizendo que a vivemos, existindo. Buscando estar no mundo sem estar conosco, como fogos de artifício de brilho belo, mas breve, e que muitas vezes o vazio que fica é preenchido com as lágrimas de fontes estranhas.
O corpo preenche o vazio da alma que esvaziou o corpo no mundo externo.
Ali e acolá, testamos limites para o desafio da vida a ser vivida, localizando no corpo os alvos que indicam o lamentar da vida não vivida para cá do corpo.

Tocamos os acordes da vida do mundo, enquanto o corpo canta o solo nas cordas do nervo vago, este o mais longo da anatomia humana que desliza sobre os órgãos por onde passa. Como um instrumento de corda, lança seus impulsos na carne que dança uma vida invisível para nós, até reclamar os aplausos da alma que se ausentou do espetáculo.
Vagando, vagando nos toques de tambor do coração, sopros de trombone dos pulmões, estalos das sinapses nervosas do encéfalo e do intestino, sentidos pelo violino da medula espinal que sustenta seu corpo nos receptores do grande corpo. A orquestra toca em silêncio, até gritar pelo silêncio da alma.
Resquícios do existir para a vida. O vagar do sem rumo torna-se o vagar do lume que brilha para abrilhantar a si para o mundo. Não estamos no corpo e não estamos no mundo. Vagando nos afazeres da vida, a sinfonia reverbera suas notas. Sem quem possa admirar o seu mais belo toque, continua o seu labor.
Enquanto somente querermos ocupar o mundo lá fora, o mundo não terá sentido de ser e viver, pois são feitos um para o outro. Habitar o corpo e estar no mundo para viver a vida que canta o sentido do viver a cada dia, vagando por aí.
Vagando para viver e não existir para vagar na ausência da alma que foge do lar para encontrar por lá o que sempre teve e nunca, ou raramente, percebeu, a ponto de não reconhecer a própria casa. O brilho do mundo torna-se sedutor e quem não brilha o lume do vago, apaga-se na vida para viver, passando a existir vagando pela vida.



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